Rota do Memórial do Convento

A importância histórica de Fanhões na Rota do Memorial do Convento, pelo Livro do Escritor e Prémio Nobel da Literatura em 1998 onde Fanhões assume especial significado, como localidade e como povo.

“…. Já passámos Pintéus, vamos no caminho de Fanhões, dezoito estátuas em dezoito carros, juntas de bois à proporção, homens às cordas na conta do já sabido, porém não é isto aventura que se compare com a pedra de Benedictione, são coisas que só podem acontecer uma vez na vida, se o engenho não engenhasse maneiras de tornar fácil o difícil, mais valia ter deixado o mundo na sua primeira brutidão. As populações vêm ao caminho festejar a passagem, só estranham de ver os santos deitados, e nisso têm razão, que mais formoso e edificante espectáculo não dariam as sacras figuras se viajassem de pé sobre os carros, como se fossem de andor, até os mais baixitos, que não chegam a três metros, medida nossa, seriam avistados de longe, que fariam os dois da frente, S. Vicente e S. Sebastião, quase cinco metros de altura, gigantões atléticos, hércules cristãos, campeões da fé, olhando lá do alto, por cima dos valados e das copas das oliveiras, o vasto mundo, então sim, seria isto religião que nada ficaria a dever à grega e à romana. Em Fanhões parou o cortejo porque os moradores quiseram saber, nome por nome, quem eram os santos que ali iam pois não é todos os dias que se recebem, ainda que de passagem, visitantes de tal grandeza corporal e espiritual, uma coisa é o quotidiano trânsito dos materiais de construção, outra, poucas semanas há, o intérmino cortejo dos sinos, mais de cem, que hão-de rebimbar nas torres de Mafra a imperecível memória destes acontecimentos, outra ainda este panteão sagrado. Foi o pároco da terra chamado à ciceronia, mas não soube dar boa conta do recado, porque nem todas as estátuas tinham visível o nome do pedestal, e em muitos casos por aí se ficaria a ciência identificadora do padre, uma coisa é ver logo que este é S. Sebastião, outra seria dizer, de cor e salteado, Amados filhos, o santo que aqui estão vendo é S. Félix de Valois, que foi educado por S. Bernardo, que vai lá à frente, e fundou com S. João da Mata, que aí vem atrás, a ordem dos trinitários, a qual foi instituída para resgatar os escravos das mãos dos infiéis, vede que admiráveis histórias se contam na nossa santa religião, Ah, ah, ah, ri o povo de Fanhões, e quando é que vem a ordem para resgatar os escravos das mãos dos fiéis, ó senhor prior. Vistas as dificuldades, foi o padre ao governador deste transporte e pediu consulta dos papéis de exportação que tinham vindo de Itália, subtileza que lhe valeu recuperar a abalada credibilidade, e então puderam ver os moradores de Fanhões o seu ignorante pastor, alçado sobre o muro do adro, pregoando os benditos nomes pela ordem que iam passando os carros, até ao último, por acaso era S. Caetano, levado pelo José Pequeno, que tanto sorria aos aplausos como ria de quem os dava. Mas este José Pequeno é maligna criatura, por isso o puniu Deus, ou o Diabo o puniu, com a corcova que traz às costas, háde ter sido Deus o do castigo, porque não consta que tenha o Diabo esses poderes em vida do corpo. Acabou o desfile, segue a santaria para Cabeço de Monte Achique, boa viagem…”

A Rota do Memorial do Convento assenta em três níveis de conteúdos:

Nível 1 – Centrados na narrativa da obra Memorial do Convento

Nível 2 – Contextualização histórica dos locais assinalados (século XVII) e articulação com a história local

Nível 3 – Cruzamento com outras ofertas, incluindo pontos de interesse patrimonial e cultural com forma de enriquecimento da visita e fruição da região.

Proposto para Fanhões e após reuniões com o grupo de trabalho da Rota em articulação com o Executivo da Junta de Freguesia de Fanhões :

Nível 1 –  Uma das ligações entre Lisboa e Mafra cruzava, à época, a povoação de Fanhões. Esta Estrada real foi usada para o transporte de materiais de construção destinados ao Palácio/Convento Real de Mafra na narrativa de José Saramago, como estátuas, sinos, etc. Há um episódio que refere a passagem das estátuas italianas, que vindas de Santo Antão, cruzaram Fanhões em direção a Cabeço de Montachique. Sabemos também por arquivos históricos, que pessoas, trabalhadores desta região, engrossaram a longa lista de operários que construíram o Palácio/Convento.

Nível 2 – Contextualizar Fanhões no século XVII, identificando todo o tipo de Património passível de enriquecer a oferta da Rota, sinalizado à época, além da Igreja, está referenciado os Termos de Lisboa e a Fonte Velha de Fanhões.

Nível 3 – Integrar outras ofertas e pontos de interesse de património histórico e cultural em toda a Freguesia:

Igrejas;    Fontes;  Fontanários e Lavadouros;   Urbanismo e Casas de Habitação;    Património Azulejar das fachadas;     Calceteiros e Obras de Arte em Calçada;   Paisagem compartimentada da Casaínhos;   Moinhos;  Asnagas e caminhos;   Azenhas, Picotas e Noras:;  Anta de Casainhos; Gastronomia e Doçaria; Ligação à Rota das Linhas de Torres;  Ambiente e Linhas de Água;  Cultura, Artesanato e Associativismo;  Comércio local;   Pastorícia e Agricultura.

A proposta contempla  a implementação de um Toten no largo da Igreja de Fanhões e a colocação de sinalética à entrada das localidades que fazem parte da Rota do Memorial do Convento de modo a assinalar esta oferta histórica.

www.cm-loures.pt/Conteudo.aspx?DisplayId=3734

www.cm-lisboa.pt/noticias/detalhe/article/rota-do-memorial-do-convento

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